Foto da capa vereador Rubinho Nunes do Patriota
Nenhuma forma de arte cultural fica indiferente à beleza e as emoções do Carnaval das escolas de samba. Sua linguagem é universal, pois tem propiciado mundo afora, um rico e emocionante encontro de mentes brilhantes para fazer o show do maior espetáculo da terra.
Porém, quando o espetáculo não acontece em favor da vida, da saúde das pessoas e das regras estabelecidas pela ciência para evitar o contágio da pandemia Covid-19, o cenário é ocupado por àqueles que estão na contramão da cultura e “atiram” contra o samba. Hipocrisias, intolerâncias, demagogias, deboche, entre outros preconceitos jocosos são lançados pelos inimigos da arte, da cultura, e da maior representatividade artística do Brasil, o Carnaval.
Entre os mais novos desafetos da nossa cultura, surge o vereador Rubinho Nunes (Patriota), que subiu à tribuna do plenário da Câmara Municipal e destilou seu “veneno” e sua ignorância, em um ato de total desrespeito ao povo do Samba.
Sem o mínimo de conhecimento, do que é a cultura do samba, dos batuques das escolas de samba, o canto nos sambas de enredos, samba de roda, dos pagodes, enfim entre os muitos títulos que o samba tem na cultura brasileira, e principalmente, na ânsia de se aparecer perante aos que o elegeram, o vereador criticou a Secretaria da Cultura do Munícipio de São Paulo por patrocinar as “Lives” de artistas do samba, profissionais que assim como qualquer outro necessita sobreviver em meio a essa pandemia, com a ausência de eventos culturais.
Segundo o discurso desse vereador, “esses sujeitos querem ganhar três mil reais para fazerem batuques”, debochando e menosprezando os artistas sambistas que sobrevivem dessa arte. Além, disso o tal vereador questionou, em forma de deboche, como a Prefeitura, ainda destina as verbas para as escolas de samba num ano que não tem Carnaval.
O posicionamento desrespeitoso provocou a indignação e a revolta de vários seguimentos do samba, entidades carnavalescas, imprensa especializada e autoridades paulistanas.
Entre os quais, o Jornal Bastidores do Samba – dos Jornalistas Antonio Carlos dos Santos (Toninho Blau Blau) e Hélio de Oliveira – que reúne um grupo seleto de sambistas de raiz e de história no Carnaval protocolou (dia 24 de fevereiro de 2021) “Moção de Repudio” na Câmara Municipal de São Paulo, onde exige uma retratação e o pedido de desculpas do vereador Nunes em sessão ordinária da casa, pelo comportamento de desrespeito e deboche a nação de sambistas e comunidades do Samba de São Paulo.
O presidente da Câmara Municipal, vereador Milton Leite (DEM), também se pronunciou contra ao discurso de Nunes. “Ora, só quem não entende nada de cultura acha que, porque não teve carnaval, todos os trabalhos sociais e culturais feitos pelas agremiações pararam. O ritmo de produção diminuiu, claro. Mas o carnaval não pode morrer à míngua. Só no ano passado essa festa movimentou R$ 2, 9 bilhões. E não ouvi reclamação nenhuma nesse sentido.” O pronunciamento de Leite ainda alerta o vereador desatento: “Antes do senhor discursar na tribuna do parlamento contra a cultura, o samba e o povo do Carnaval, procure se informar melhor e conhecer a autenticidade do Samba Paulista, do povo sambista e do legado que os batuqueiros trazem para a nossa cultura. Não os trate com indiferenças ou deboches”, concluiu Leite.
Além do presidente da Câmara Municipal, se pronunciar contra o discurso de Nunes, outros cinco vereadores também saíram em defesa das comunidades do samba. O secretário Municipal da Cultura Alexandre Youssef expressou sua solidariedade as manifestações carnavalescas e os sambistas que fazem parte do “Festival Tô Me Guardando”, afetados pela liminar que suspendeu parte do evento. “Nosso carinho e abraço ‘aos sujeitos que fazem batuque’ artistas como chamados em tom de deboche e discriminação por aqueles atacaram o festival. Ressaltamos, que estamos agindo contra essa liminar de suspenção do evento. Pois, os sambistas e as comunidades carnavalescas são os protagonistas da maior festa cultural do país. Agora tão afetados e prejudicados com esse tempo de pandemia”, afirmou o secretário de Cultura. Na Assembleia Legislativa a deputada, sambista e cantora Leci Brandão (PCdoB) também fez um discurso exigindo respeito e retratação ao povo do samba.
Para finalizar essa crônica “Ronco da cuíca” lembramos aos desafetos do samba. Um trecho da musica do Grupo Fundo de Quintal “A Batucada dos Nossos Tantãs” e o refrão: Samba, a gente não perde o prazer de cantar…E fazem de tudo pra silenciar…A batucada dos nossos tantãs…No seu ecoar o samba se refez…Seu canto se faz reluzir… Você Não Samba, Mais tem que Aplaudir!!!
Valdir Sena – Jornalista, radialista e cronista de Carnaval.
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