Com passagem importantes por diversas Instituições do Carnaval, Lourival Almeida, atual Diretor da Escola de Samba Vai Vai conversou com o site Sintonia de Bambas sobre de como a experiência de um quase rebaixamento em 2018 deu mais força e fez os integrantes repensarem a tradição, na administração e na busca de mais um título para a Escola no Carnaval de São Paulo em 2019.
Com ascensões de novas Escolas de Samba no Carnaval de São Paulo ao grupo Especial, a competitividade e o nível dos desfiles ganhou mais holofotes e disputas cada vez mais acirradas no decorrer dos anos. As Escolas mais tradicionais têm tido muito que inovar para brigar pelo título em cada apuração. E com isso, a cada ano tendo que superar o desafio da pluralidade, na criatividade e adaptação aos novos parâmetros e estilos de administrar uma agremiação. Desde quando se iniciou o Carnaval de São Paulo não é o mesmo de 1968 da Avenida São João, mas não se tem dúvida do nome Vai Vai e o que ele representa no Carnaval de São Paulo, mesmo a Escola de Samba do Bixiga tendo passado por momentos delicados em 2018. Para 2019, com o Quilombo do Futuro, a Vai Vai traz no enredo a luta do povo negro pela liberdade e para manter viva sua cultura através dos séculos, além da promessa de um desfile de alto nível e com a força da comunidade.
Lourival enfatiza este simbolismo de matriz africana que fundou a Escola, e que até hoje, ainda é a linha de frente da administração da agremiação ao se produzir o que vemos nos desfiles, mas deixa claro que a Vai Vai é uma entidade carnavalesca que mantêm suas portas abertas à comunidade nascida e criada dentro da agremiação “A marca muito forte da Vai Vai é que ela não é apenas desfile de Escola de Samba, a Vai Vai é uma Escola de Samba de verdade. Tudo que a gente faz deságua no desfile, mas não somos só isso. Quando a gente fala de raiz, a gente fala desta preservação. Dificilmente, você verá na Vai Vai um integrante contratado, os segmentos são produzidos internamente. Ao falar de tradição temos uma preocupação muito grande de preservar estas raízes, esta identidade de ser uma Escola de Samba fundada no Centro da Cidade e uma Escola de Samba de origem de matriz africana e a gente defende isso, mas por outro lado a gente tem a preocupação de se manter competitivo e não estar fechado a nenhuma transformação. Como gestores da escola existe a preocupação com o equilíbrio da tradição, temos uma ala das crianças que já tem 50 anos (2018) comandada pela Dona Cleuci. Esta ala tem a idade que muitas Escolas não tem de existência.”
A Vai Vai é conhecida dentro e fora do país, apesar da surpresa das notas baixas em 2018 que quase trouxe um histórico rebaixamento para a Escola, o diretor sabe que fazer Carnaval é um organismo em eterna mutação, e com isso, Lourival vem tendo diversas conversas com os novos e os mais tradicionais membros da Escola para atender aos interesses da Agremiação e priorizar as demandas do mercado. Com propostas que fortalecem o vínculo da comunidade e os traços marcantes na mistura de raças e da manifestação aguerrida do povo negro em resistir ao esquecimento e ao preconceito. As práticas mais interativas e participativas no interior da Escola ganham notoriedade com o discurso em torno de questões como representatividade e a beleza da cultura negra nas mídias sociais. E ao assumir um papel de Escola/Empresa, por meio de um planejamento embasado em acompanhar as transformações políticas, sociais e de infra estrutura da cidade,
Em relação aos boatos sobre a saída da quadra do Centro de São Paulo, Lourival afirma que é uma ação que precisa ser analisada com toda a atenção “O fundamento, a alma do Vai Vai está fincada no centro da cidade, e isto tem uma importância singular, mas o Carnaval se faz com infra estrutura. Eu enxergo que a Escola da Samba é o braço do poder público que o cidadão consegue alcançar, então para que possa exercer isso de forma eficiente ela precisa ter quadra e para fazer seu samba, seus ensaios e sua atividade cultural, e tudo isso precisa ser pensado. Várias Escolas não estão mais em seu bairro de origem, foi uma migração natural obedecendo critérios da transformação de São Paulo e normas de órgãos públicos. Será que isso pode ser feito no Centro da cidade? É uma discussão que a Vai Vai está disposta a enfrentar. É uma assunto delicado, mas não tem como não tratar disso.”
Em frente a uma crise que se instalou na Escola no ano passado é nítido o amor e a luta de Lourival em defender seu pavilhão “Existe este factoide que precisa ter um pouco de crise para esquentar as coisas na Vai Vai, e acho que estamos indo para um Carnaval quente neste aspecto. Terminamos 2018 em 10º lugar, atravessamos um ano tumultuado politicamente na Escola, para o ” mercado” a Vai Vai é dada como carta fora do baralho. Mas o dia dia vem mostrando que não estamos tão carta fora do baralho assim.” Assim como os quilombos tiveram a importância de manter viva a luta pela dignidade do negro em tempos de opressão e escravatura, a Vai Vai chega na avenida em março para encantar o público com a mais pura e simples transmissão da representação do papel relevante para a economia, a política e a cultura do povo negro para o País.
Ouça alguns trechos da entrevista:
Por: Josy Dinorah