Assim como a Queda de qualquer Império, o histórico rebaixamento da Escola de Samba Vai-Vai marcará o início de uma nova Revolução no cenário do Carnaval de São Paulo.
Ainda está difícil para a comunidade do Bixiga, tradicional bairro da Capital de São Paulo, ingerir as diversas notas baixas acumuladas pela Vai-Vai no decorrer de seu desfile oficial no Sambrómo do Anhembi. A queda de uma das mais tradicionais Escolas de Samba de São Paulo ainda permeiam as conversas nas rodas de bate papo entre amigos, e acaloram diversas discussões em redes sociais, mostrando que “qualquer Escola” está sujeita a amargar o dissabor do rebaixamento.
Mas devemos nos atentar que no decorrer da história as grandes “quedas” não ocorreram por acaso, nem de um dia para noite. Demandaram tempo. Passaram por diversas fases. E possuem diversos fatores.
E em relação à Vai- Vai ouvimos e vemos as mais variadas desculpas, principalmente nos últimos dias, ” culpa das mudanças de regras, culpa dos jurados, culpa das pastas, culpa de eventual suborno e enriquecimento ilícito, culpa dos charutos, culpa da atual administração, culpa do grupo de oposição….”
Alguns discursos mais abrasados falam até em racismo contra a única Escola de representatividade Negra, que existia no grupo especial, e que a culpa mais uma vez é dos ” brancos”. Mas é necessário sair da bolha, largar o vitimismo e enxergar os diversos fatores internos e externos que já pairavam sobre a agremiação.
A queda da Vai-Vai para o grupo de Acesso 1 deve ser vista como um processo, onde é necessário avaliar o clima na organização da escola com a divisão ideológica e administrativa dos diretores, os interesses da comunidade e a cegueira em achar que apenas o Nome é suficiente para se ganhar o Carnaval.
Com as divulgações das justificativas dos jurados nessa semana é notório que o comando da Agremiação não se preocupou com o que deveria de se preocupar. Em uma disputa que a cada ano um décimo a menos ou a mais faz toda diferença, e que uma meia em um componente faz muita falta !
Outro fator relevante e que talvez não seja levado em conta por muitas agremiações, está na força que as redes socias exercem, atualmente com seus efeitos de enaltecer, construir e destruir. Não existe imunidade na fluidez das informações. A rapidez com que tudo se torna viral precisa ser repensada e acima de tudo temida. E essa força traz à tona alguns comportamentos que não podem mais ser tolerados e admitidos, principalmente no mundo do Samba, o desrespeito a um ritmista que erre , a mulher agredida , a agressão a um profissional no exercício de sua função, a truculência dos harmonias, o desrespeito à sua velha guarda… Situações como essas devem servir como pontos para reflexões e para uma retomada na mudança.
O rebaixamento da Saracura não deve ser visto como uma derrota, mas um aclamado chamado ao “povo preto” para apoiar e participar de mudanças significativas dentro do Carnaval de São Paulo. Organizar, atualizar e defender o papel do Samba como uma cultura popular, independente do grupo que estiver, deve ser o papel da Escola do Povo.
É momento de revolta? Não, Bixiga! É chegado o momento de mudança! É Chegado o momento da Revolução!
Por Shirlei Dias e Josy Dinorah