Foto capa: Dayse Pacifico
Ernesto Teixeira iniciou sua trajetória no samba ainda muito jovem. Aos 13 anos, o garoto corinthiano, apaixonado pelo time do coração, já vibrava nas arquibancadas da Gaviões da Fiel — a maior torcida organizada do Corinthians. Foi ali, entre batuques, bandeiras e cânticos, que ele se encantou também pelo samba, expressão que se conectava com a alegria, a garra e a energia da Fiel.
O que Ernesto ainda não sabia é que estava prestes a dar um passo que mudaria sua vida. Em 1985, após se destacar nas arquibancadas, recebeu o convite para ser o intérprete oficial da Gaviões da Fiel, hoje uma das maiores escolas de samba de São Paulo. E desde então, há quatro décadas, sua voz comanda o carro de som da agremiação no Sambódromo do Anhembi — uma marca rara, construída com talento, paixão e resistência. “A Gaviões nasceu como um bloco carnavalesco, e naquela época ainda não contava com um intérprete fixo, embora tenha recebido grandes nomes da Vai-Vai, como o Tobias”, relembra Ernesto. “A escolha do cantor muitas vezes dependia da confirmação da agenda, e foi justamente dessa incerteza que surgiu o convite.”
Ao longo desses 40 anos de dedicação ao samba, Ernesto se consolidou como uma das vozes mais emblemáticas da história da Gaviões. Respeitado dentro e fora da escola, sua trajetória transcende os limites da torcida organizada, conquistando o reconhecimento de outras agremiações e segmentos da cultura popular.
Mais do que intérprete, é também compositor de sambas que eternizaram momentos da Gaviões na avenida, contribuindo diretamente para a construção da identidade artística e combativa da escola. Durante a entrevista, ao comentarmos sobre a discussão em torno da ligação entre a escola de samba e a torcida organizada — ele relembrou movimentações passadas que tentaram extinguir a Gaviões da Fiel como torcida. Com emoção e firmeza, relembrou os versos de “Que Bobos”, hino lançado em 2004:
“A Gaviões não acabou
E jamais acabará, você pode acreditar
Nossa corrente não será quebrada
Um grito forte ecoou, o o o (TIMÃO)
Estremecendo toda arquibancada.”
Mas Ernesto não se limita ao samba. Em 2024, decidiu levar sua voz também para a política, candidatando-se a vereador de São Paulo. Hoje, ocupa a posição de suplente na Câmara Municipal. Em suas redes sociais, continua espalhando mensagens de otimismo, esperança e união — princípios que sempre nortearam sua trajetória. Para ele, a música e o diálogo são ferramentas poderosas de transformação social.
Com o olhar voltado para o futuro, Ernesto prepara um novo projeto: encontros descontraídos com sambistas e personalidades para conversar sobre temas diversos. E com um tom bem-humorado, comparamos a ideia à clássica “Samba do Arnesto”, de Adoniran Barbosa. Só que desta vez, o anfitrião receberá os convidados. E garante: a recepção será sempre com respeito, leveza e a vibração positiva que o samba ensina.
Ernesto Teixeira não é apenas o intérprete da Gaviões — é a própria voz que ecoa nas avenidas do Carnaval, atravessando gerações com força e identidade. Sua presença não se apaga, porque sua “corrente” é feita de resistência, paixão e história. E essa história, tão imbatível quanto a própria Gaviões da Fiel, seguirá ressoando onde houver samba, luta e amor pela cultura popular.