Foto capa: Nelson Gariba/ Sintonia de Bambas
“O Samba não pode parar!”, disse um poeta, mas em fevereiro de 2021, o silêncio ensurdecedor por onde passa o Carnaval emudeceu a passarela. O ritmo contagiante das batucadas, os roncos das cuícas, a passagem das emoções nas histórias contadas nos enredos, as imaginações, cores, sonhos e a beleza da evolução cantada no samba e nos pés. A alegria dos milhares de sambistas que desfilam nas escolas neste ano não estarão nos sambódromos, e nem nas centenas de ruas e avenidas por onde o Carnaval tem passagem.
O mundo vive de luto. Pois, atravessa um dos períodos mais difíceis para a humanidade. A tempestade da pandemia Covid 19, que deixa um rastro de mortes, dor e medo do contágio. Desde então, a terra parou! E há cerca de um ano todo mundo conta com diversas vidas perdidas pela pandemia. E no Brasil, país da alegria do Carnaval, não está diferente. São muitas as perdas.
Porém, todos na esperança das vacinas e que a imunização da população nos reserve dias melhores. Já que em 2021, ano que se comemora os 30 anos do Sambódromo do Anhembi, não tem Carnaval e o poder da alegria de milhares de sambistas e de milhões de pessoas nas arquibancadas ou nas telas da televisão. O tempo é de silêncio, salvar vidas e de fé para que tudo passe logo.
Quem sabe em 2022, a magia do Carnaval com suas escolas de samba estejam desfilando novamente em nossas vidas. Afinal, como diria o saudoso baluarte Juarez da Cruz, emérito fundador da Escola de Samba Mocidade Alegre, “apesar de todas dificuldades do dia a dia. Fazer o povo sorrir não é tarefa fácil. Só as escolas de samba, tem o poder de juntar todas emoções num desfile e fazer a alegria do povo.” Ensinamentos do velho baluarte.
Sábios nas palavras deixadas, o velho baluarte nos ensina a refletir que o Carnaval das escolas de samba, não é só espetáculo. A tarefa de fazer o povo vibrar e sorrir, também passa pelas dificuldades nos barracões das escolas. A falta de dinheiro para as confecções das fantasias, carros alegóricos e da montagem geral do desfile, é um drama constante. Os barracões das escolas oferecem muita mão de obra, mas com muito pouco recursos financeiros para ofertar aos trabalhadores e trabalhadoras das comunidades um salário condizente com seus esforços.
O ano de 2021 sem Carnaval, por causa da pandemia Covid 19, deixou muitas famílias a beira do caos. Além de perder os trabalhos nos barracões das escolas e os ganhos salariais, ainda convivem com o fim do auxílio emergencial do governo federal. O que deixa comunidades inteiras `a margem da sorte para a sobrevivência e tendo que se reinventar para superar as dificuldades.
Um cenário que aponta para um sinal de alerta tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo. Carnaval não é só glamour, show, vaidades ou ostentações. O grande volume de dinheiro que gira em torno da realização do Carnaval, mal chega para aqueles estão trabalhando na ponta para a construção dos desfiles das escolas.
Sem Carnaval, as pessoas que constroem os espetáculos, e que normalmente são invisíveis aos olhos daqueles que só enxergam a festa como lazer turístico. São as mais penalizadas neste capítulo da página carnavalesca.
Sem samba e a alegria dos sambistas, faz do aniversário dos 30 Anos do Sambódromo do Anhembi, o palco apagado e a frustação que este ano não tem festa e nem convidados. Um capítulo vazio!