Durante a Copa na Rússia, quando a população mundial estavam, com os olhos voltados para os jogos das seleções, o mundo também assistia angustiados o drama de 12 meninos e seu técnico de futebol para serem resgatados da caverna Tham Luang, na Tailândia. Um jogo pela vida desses Javalis “Guerreiros” Selvagens.
Na última quarta-feira (18/07), em Bangcoc, os 12 “Guerreiros” Javalis e o técnico saíram do hospital, depois de ficarem 17 dias presos na caverna. O grupo deu uma entrevista coletiva que foi transmitida em vários canais no país para contar detalhes do período em que ficaram presos e a operação de socorro. Eles disseram que não tinham comida, e que só beberam água que pingava da parede durante os nove dias em que estiveram sozinhos, antes de serem encontrados. Na entrevista, eles estavam acompanhados de autoridades que ajudaram no resgate e de uma equipe médica.
Enquanto as autoridades falavam do estado de saúde deles, já recuperados, os meninos faziam sinais com a mão de que estavam bem. Começando pelo treinador Ekkapol Chantawong, chamado de Ake, cada um dos jovens do time Javalis Selvagens se apresentou, disse a idade e indicou em qual posição joga em campo.
Ao pegar o microfone, Ake disse que todos concordaram em ir à caverna. Quando a chuva começou, eles viram a água entrar e consideraram deixar o local, mas não tinham ideia da altura que a água alcançaria.
— Sabíamos que estávamos presos quando tentamos fazer o caminho de volta. Precisávamos nos molhar e nadar. Todos podem nadar — esclareceu ele, desmentindo a informação, que circulou durante todo o tempo em que ficaram presos, de que nenhum dos meninos sabia nadar.
ESCAVAÇÃO POR CONTA PRÓPRIA
Segundo o treinador, os garotos faziam atividades de natação após os treinos. Ele tentou acalmar os meninos e o grupo tentou sair por conta própria, cavando sem sucesso um túnel.
— Não percebemos o quão alto a água poderia subir — afirmou — Nós alternávamos turnos para cavar nas paredes. Tentamos sair porque achamos que não podíamos esperar que as autoridades nos resgatassem.
Os meninos, com cabelos recém-cortados, ganharam em média 3 kg cada desde o resgate, encerrado há sete dias, em 10 de julho, e passaram por exercícios de confiança antes do evento desta quarta-feira, disso o diretor do hospital onde estavam internados. Um dos meninos afirmou que foi um milagre que ele e seus colegas tenham sido encontrados depois de passar nove dias sozinhos na caverna.
— De repente escutamos pessoas falando — afirmou em inglês Adul Sam-On, de 14 anos, que respondeu, em inglês aos mergulhadores britânicos que os encontraram. — Meu cérebro não estava funcionando muito bem. Foi mágico. Eu tive que pensar muito antes de responder as perguntas deles.
SEM COMIDA, APENAS ÁGUA
Ake disse que eles tentaram cavar uma saída, inicialmente. Ele tentou acalmar os meninos, dizendo que a água baixaria no dia seguinte. Um dos meninos disse que não havia comida, apenas água.
— Nós vimos a água pingando da parede, então ficamos próximos à fonte de água. Nesse momento não estávamos com medo porque pensávamos que a água iria baixar e alguém viria nos resgatar — contou o treinador, dizendo que a água na parede da caverna era limpa. — Não tínhamos comida, só bebemos água.
— Eu não tinha força. Tentei não pensar em comida para não ficar com mais fome — acrescentou o mais novo do time, Chanin Vibulrungruang, chamado de Titan, de 11 anos.
O grupo foi retirado da caverna numa operação que demorou três dias: quatro saíram no primeiro, depois mais quatro e os outros quatro jogadores e o treinador na última etapa. O técnico contou que a ordem de saída não teve a ver com o estado de saúde:
— Aqueles que moravam mais longe iam primeiro, então eles contariam a todos que os meninos estavam bem — explicou Ake.
Um cartaz na sala onde aconteceu a coletiva dizia ” Trazendo os Javalis Selvagens para casa”. O local foi arrumado para parecer um campo de futebol, com traves e redes, para receber os meninos e cinco membros da equipe de resgate. Um vídeo do último dia dos jovens no hospital foi exibido, no qual eles agradecem aos médicos pela assistência no período de recuperação.
A entrevista coletiva foi monitorada por especialistas e o Departamento de Relações Públicas da província de Chiang Rai solicitou as perguntas antecipadamente para submetê-las a psiquiatras. Mais de 100 foram enviadas e selecionadas.