Pérola Negra desfila com o poder do matriarcado nagô

Foto Capa: Dayse Pacifico

Na madrugada do 23 de fevereiro de 2025, a escola de samba Pérola Negra entrou no Sambódromo do Anhembi com um desfile repleto de simbolismo, durante o desfile do Grupo de Acesso II. A agremiação apresentou um enredo inspirado no livro “Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô”, da autora Claudia Alexandre, explorando a profunda conexão entre o orixá Exu e a figura feminina.

O desfile destacou a representação feminina de Exu, tradicionalmente associada à fertilidade, fecundidade e maternidade na visão iorubá. A Pérola Negra trouxe para a avenida alegorias e fantasias que celebravam essa faceta do orixá, enfatizando sua importância nas práticas rituais e na cultura afro-brasileira.

Entenda o Enredo

A inspiração do enredo “Exu Mulher” vem do livro de quase o mesmo nome “Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô”. Uma obra que aborda as transformações pelas quais a figura de Exu passou durante a diáspora africana, incluindo sua masculinização e demonização. O livro também discute as tensões de gênero na formação dos candomblés e a ausência da representação feminina de Exu em muitos terreiros brasileiros. 

A autora, Claudia Alexandre, baseou-se em sua premiada tese de doutorado para compor a obra. Ela é jornalista, escritora e pesquisadora dedicada aos estudos das tradições afro-brasileiras. Sua trajetória acadêmica e profissional é marcada pelo compromisso com a valorização e divulgação das culturas de matriz africana no Brasil. Ela conta que o convite do Carnavalesco Rodrigo Meiners foi recebido com muita alegria, algo que segundo ela, reafirmou que o universo das escolas de samba é o seu lugar “Construí minha carreira como jornalista cobrindo carnaval das escolas de samba. Me afastei do rádio para me dedicar ao doutorado sobre a masculinização de Exu, mas nunca imaginei que minha pesquisa resultaria num livro premiado (Prêmio Jabuti 2024) e agora enredo de carnaval”. A autora torce pela volta da Pérola Negra para o Grupo de Acesso 1.

A apresentação da Pérola Negra não apenas homenageou a obra de Claudia Alexandre, mas também proporcionou uma reflexão profunda sobre o papel da mulher nas religiões afro-brasileiras e a importância de resgatar narrativas ancestrais muitas vezes esquecidas ou marginalizadas. O público presente no Anhembi foi brindado com um espetáculo que uniu arte, cultura e espiritualidade, reafirmando a relevância do Carnaval como espaço de resistência e celebração da diversidade.