Por Josy Dinorah
Propondo transformação e a revolução através do poder da alegria, a Escola de Samba Dragões da Real mostrará que a força de um sorriso e o amor pela arte do Carnaval pode trazer o tão sonhado título para a Agremiação.
Não é de hoje que a ciência comprova que o impacto de um sorriso pode inspirar, sendo a melhor forma de comunicação entre os seres. Ao sorrir exercitamos 12 músculos faciais, se gargalharmos usaremos mais uma dúzia deles e se juntarmos uma boa conversa ao pacote usaremos 84 músculos. Realmente, a arte do riso pode mudar o mundo.
A arte de sorrir ou de fazer o público sorrir remonta à história da humanidade. Ao fazer jogos, sátiras e paródias de temas sociais ou políticos de diversos períodos da existência humana, o artista, tem um papel de extrema importância para a criticidade do homem. É através da comédia que ele faz seu público compreender melhor as crises da vida humana e suas emoções, permitindo a mudança de visão sobre costumes e hábitos sociais. Ou seja, assim como o Carnaval, a comédia tem esse “poder” de divertir e de mudar a rota, diversificando o olhar comum das coisas e rompendo com as barreiras do preconceito.
A alegria na Comunidade da Dragões da Real já é marca registrada e bem conhecida, e o Site Sintonia de Bambas conversou com o Carnavalesco Mauro Quintaes sobre o enredo da Agremiação para 2020: “A revolução do riso: a arte de subverter o mundo pelo divino poder da alegria”, que poderá abrir caminho para o tão sonhado título.
Com o tema de 2020, vamos ter uma viagem pelos Deuses, Mitologia e movimentos culturais como a Comédia Dell’arte e a arte circense?
Mauro – Abriremos o desfile com um grande ataque de riso, como se toda a Escola estivesse envolvida no sorriso e a alegria irá invadir o Anhembi! Costumo dividir os meus enredos em setores, sendo o primeiro um ataque de riso e o segundo será a construção da própria comédia. Eu falo sim, da Comédia Dell’Arte, também falarei de Molière e de todas estas estruturas que sustentam e são sustentadas pelo sorriso. Falarei do humor em tempo de cólera, de chargistas, comediantes, e grandes símbolos da comédia como postura política muito forte. Fecho com a amarração da solidariedade com a alegria e o amor na frase que sintetiza o último setor “o riso cura“ em parceria com os Doutores da Alegria.
O tema: “A Revolução do Riso: A arte de subverter o mundo pelo divino poder da alegria” abre um leque enorme de possibilidades e abordagens, qual será a linha da Escola para a preparação 2020?
Mauro – A Escola vai fomentar, incentivar e produzir um processo de envolvimento neste sentimento e neste sorriso durante os ensaios, presença na quadra e carros coreografados. A alegria e o sorriso não ficarão limitados somente ao desfile, farão parte de um contexto dentro da Comunidade. Criando uma catarse dentro da própria Escola, para que todos entendam que o sorriso será a nossa grande arma no Campeonato de 2020. Portanto, tantos nas ações da Diretoria, nas ações sociais que serão feitas baseadas na temática, nos ensaios técnicos e até mesmo nos ensaios de carros alegóricos, será a presença do sorriso um elemento fundamental. Queremos justamente desopilar, através do sorriso, essa coisa tão ruim que vivemos hoje. Pode ser uma janela para um futuro diferenciado ou pode ser uma válvula de escape? Pouco importa. O importante é que em 2020, a Dragões vai ter como base de seu comportamento e preparação, o sorriso presente dentro e fora da Escola.
Ao associar o tema Alegria e Carnaval foi quase automático a ligação com a figura do Arlequim. Assim como esse personagem jogante da vida e das palavras, a Dragões trará à tona temas de caráter mais social e político intrínseco ao enredo?
Mauro – Sim, acredito que no terceiro setor onde falo justamente do riso em tempo de cólera entrará toda uma critica, toda uma abordagem social de como o humor pode se revelar. O humor pode ser visto como uma grande arma não só contra a repressão ou a censura como um todo, citaremos ‘O Pasquim’ que foi no Brasil um grande símbolo deste tipo de humor e ‘O Grande Ditador’ de Charles Chaplin.
O cotidiano do brasileiro é marcado por lutas diárias e históricas de desigualdade, preconceitos e temas que podem não ser tão alegres. A Escola vai se aventurar num “modernismo pós-moderno”, uma mistura de Manuel Bandeira e Youtubbers?
Mauro – A Escola tem por característica ser moderna, mas não podemos esquecer do nosso Manoel Bandeira e tantos outros personagens da Literatura que fazem parte do nosso imaginário e da nossa cultura. As crônicas do Manoel podem ser classificadas como Youtubbers do século passado. Nossa Escola é um cunho de pegada moderna sem abrir mão, culturalmente, de figuras como ele. Acho que o Carnaval tem sim uma grande função cultural, que é levar informação pra aquele componente que esta desfilando, pra aquele que é Dragões da Real. O Carnaval é caracterizado como uma atividade cultural e de informação através de seus desfiles, da descrição de suas roupas e dos sambas enredo, que eu costumo dizer que é a legenda do filme que eu vou colocar na Avenida. A Dragões e o meu trabalho tem como característica preservar esta linha cultural de “ensinamento” àquele componente que não tem ou não terá acesso a este tipo de informação por outros veículos.
Como advento da internet surge diversas formas de interação e o massivo bombardeio de memes como forma de humor e comédia causando descontração e preocupação. Quando você escreve: “um meio poderoso de brincar com a realidade”, você nos trará essa nova modalidade do riso para Avenida?
Mauro – Eu não tenho um setor que fala especificamente da internet como um todo, seja através de seus memes e das novas ferramentas do humor. Eu não falo isso. Mas acredito que na temática como um todo, a presença do riso pode se estender os stand up comedy, memes e canais de Youtube que fazem humor. Sem dúvida o carnavalesco, o profissional da Dragões ou de qualquer outra Escola que dar as costas para as mídias digitais, dará um passo atrás como relação ao avanço do tempo. Temos que estar sempre conectados. A Dragões é uma Escola que interage nas redes sociais e no enredo tem isso intrínseco, embora eu não tenha um setor falando de memes como forma de humor e comédia.
A alegria do brasileiro não se abala nem em tempos de grandes crises econômicas e políticas. Parece ser uma qualidade nata de nosso povo. Uma característica perigosa em tempos de bombardeio de informações e da velocidade da internet, mas que como nossa Festa Popular não perde a criatividade e arte de fazer sorrir.
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