Passado o tempo do Carnaval 2018, as resenhas de bastidores e os boatos que envolvem as comunidades das Escolas de Samba surgem à tona a todo momento. Notícias “falsas ou verdadeiras” elas ocupam as redes sociais e as mídias digitais na internet como “justificativas” do último desfile ou “soluções” para o próximo.
Porém, o que não se pode negar é que os resultados dos desfiles das escolas de samba, durante o Carnaval foi justo. Tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro a conquista foi para quem trabalhou ouvindo a comunidade, desfilou com humildade e usou da criatividade e audácia para apresentar um bom espetáculo.
A conquista de bicampeão pela Acadêmicos do Tatuapé já vinha se desenhando desde os ensaios técnicos. No dia do desfile, a dedicação e técnica seguida a risca dos componentes que sorriam e cantavam com alegria o samba enredo, mexia pela primeira vez com a arquibancada do Sambódromo do Anhembi na madrugada de sexta-feira para sábado de Carnaval. O enredo “Maranhão. Os Tambores vão ecoar na terra encantaria” encantou o público e os jurados. O samba enredo cantado pelo Celsinho Mody ao som cadenciado da bateria da Tatuapé, já dava mostras que o título estava perto.
Na leitura das notas pôde se perceber que a conquista da Tatuapé, foi nota a nota, já que esteve seguida bem de perto pela Mocidade Alegre, Mancha Verde e surpreendentemente pela Tom Maior, que também fizeram grandes desfiles.
Aliás em nossos comentários durante os desfiles para Rádio Sintonia de Bambas, Rádio Cumbica e Rádio Itatiaia de Minas Gerais, eu e o radialista José Carlos Alvarenga, já havíamos previstos uma disputa acirrada entre a do Acadêmicos do Tatuapé, Mocidade Alegre, Mancha Verde, Vai Vai, Império da Casa Verde, Dragões da Real e Tom Maior que estariam correndo por fora. Entretanto, nas nossas previsões, só erramos nas classificações da Vai Vai, diga-se de passagem decepcionante, e da Império. Para o grupo de acesso nossas previsões também foram certeiras com as vencedoras Águia de Ouro e Colorado do Brás. Uma análise quase que perfeita diante do trabalho apresentados pelas escolas.
Porém, o que estava fora da nossa avaliação foi a queda da Unidos do Peruche, uma escola que trabalhou muito para fazer um bom Carnaval, mas começou a despencar nos quesitos Enredo, Samba Enredo, Fantasia e Alegoria. Com a queda da Peruche e Independente Tricolor, para o grupo de Acesso, em 2019 este grupo terá a presença das mais tradicionais escolas de samba de São Paulo. Ou seja, no ano que vem o Acesso poderá protagonizar os “grandes desfiles da Avenida Tiradentes” quando a disputa era entre as escolas tradicionais como: Camisa Verde e Branco, Nenê de Vila Matilde, Unidos do Peruche, Leandro de Itaquera e Barroca da Zona Sul. Todas agora na segunda divisão e numa disputa para duas vagas no Grupo Especial. “Quem diria hem?” “Lamentável!”
No entanto, depois da ressaca dos maus resultados, muitos boatos e falsas notícias “pipocam” nas redes sociais de que vai mudar isso, ou aquilo. Que assim não pode continuar e etc, etc, etc… Porém, nada oficial. Todavia, por outro lado, presidentes e diretores das escolas se “justificam” dizendo que “não fizeram bom Carnaval por falta de recursos e apoio das comunidades”. Um blá, blá, blá de sempre e estorinhas que não convence ninguém! Ou seja, uma tremenda falta de respeito com os sambistas de verdade e as comunidades do samba.
No Rio de Janeiro as críticas sociais na boca do povo
Carnaval com “Cara do Povo” também foram os desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. O tom de protestos e de críticas sociais ficou por conta da campeã Beija Flor de Nilópolis, da surpreendente Paraíso do Tuiuti e da sempre audaciosa Acadêmicos do Salgueiro. O show das campeãs cariocas ainda teve as presenças da Portela com o enredo “De repente de lá pra cá e Dirrepente daqui pra lá”; da Mangueira com o enredo “Com dinheiro ou sem dinheiro eu brinco o Carnaval”, (uma crítica ao prefeito Marcelo Crivela, que cortou pela metade os recursos das escolas); e da Mocidade de Padre Miguel que fez uma homenagem da valorização cultural entre o Brasil e a Índia.
Mas o ponto alto dos desfiles das campeãs do Rio, foi a Beija Flor que mostrou a indignação do povo com a bandalheira que virou a política brasileira e o descaso que o Rio de Janeiro passa com a falta de segurança, falta de empregos e da roubalheira e corrupção dos governantes. Já a Paraíso do Tuiuti deu a volta por cima (de um desfile tumultuado em 2017), fez um show com o enredo “Meu Deus, Meu Deus, está extinta a escravidão?”. Tema que deixou o público da Marques de Sapucaí encantado com sua passagem mostrando a realidade do povo negro e da negritude nos dias de hoje. Destacamos aqui, as vozes de Celsinho Mody (bicampeão pela Acadêmicos do Tatuapé) e Grazzi Brasil (primeira voz feminina da Vai-Vai), que interpretaram o samba enredo da Tuiuti na Marquês de Sapucaí.
Para finalizar, vale ressaltar o grande trabalho da Equipe Sintonia de Bambas na cobertura do Carnaval 2018. Apesar dos obstáculos e os impedimentos que por vezes atrapalharam o desenvolvimento dos trabalhos, o profissionalismo dos nossos repórteres (Nelson Gariba, Shirlei Dias, Lailson Leôncio, Hauana Caetano, Júlio César, Gabryella Dias e Ana Lígia), superaram todas dificuldades.
Agradecemos também a RioTur e a Liesa pela a atenção e apoio aos jornalistas Valdir Sena, Brás Pereira e José Carlos Alvarenga durante a cobertura da Rádio Cumbica AM em parceria com a Rádio Sintonia de Bambas e o Jornal São Paulo de Fato.
Valdir Sena – Jornalista, radialista e cronista de Carnaval.
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