Preservar a memória é uma das formas de construir a história. É pela disputa dessa memória, que o radialista Moises da Rocha – um dos ícones do cenário sambístico de São Paulo – promove no SESC CARMO o encontro “História do Samba em São Paulo” através da Caravana do Programa “O Samba Pede Passagem”. O evento que se iniciou na última quarta-feira (14 de março) vai acontecer em mais três etapas (dias 21/28 de março e 04 de abril), no salão do restaurante 1 do Sesc Carmo.
Na primeira edição, Moises da Rocha teve como convidados o Seo Carlão da Peruche, os irmãos Everson e Yvison Pessoa eles que são fundadores do extinto Quinteto em Branco e Preto para acompanhar as prosas da história do samba. Entre os relatos memoráveis contados pelo Seo Carlão da Peruche revela a riqueza das manifestações culturais e do folclore de Bom Jesus de Pirapóra que mantém viva a história do samba e do Carnaval, manifestada pelos escravos e descendentes como o jongo, o batuque de moçambique, e o samba de terreiro em Pirapóra entre outras tradições praticadas pelos negros.
Porém, nesta mostra, o que ficou evidente pelas indagações e o questionamento do público presente, é a grande preocupação com os rumos do Carnaval de São Paulo e a decadência das tradicionais escolas de samba. A evolução do espetáculo, cada vez mais comercializado e de interesses turísticos para o faturamento do lucro, do glamour e vaidades daqueles que comandam as agremiações. Despreza a essência e a raiz do samba. “Hoje o desfile no Sambódromo em fila indiana e com tempo corrido de pouco mais de 60 minutos não traduz as manifestações de danças e batuques do samba praticados pelos negros”, afirma o Seo Carlão da Peruche.
Único baluarte vivo, dos grandes baluartes que iniciaram a trajetória das escolas de samba na capital paulistana. Seo Carlão da Peruche e o radialista Moises da Rocha, acham difícil uma “virada” para as tradições dos desfiles do samba de raiz. Até porque, o atual formato de comercializar o Carnaval no Sambódromo do Anhembi, não permite. Uma pela detentora rede de televisão. Que é quem paga pelo direito das transmissões dos desfiles, mas com exigências que vão na contramão da prática do verdadeiro samba tradicional. Outra pelos altos preços cobrados no valor dos ingressos nas arquibancadas e outros acessos para o público está mais direcionado a classe média e alta para assistir o espetáculo.
Entretanto, talvez até por obra do destino, em 2019 escolas que fizeram grandes desfiles nos tempos da avenida Tiradentes, vão ter a oportunidade de reviver a tradição. Porém, no Grupo de Acesso, a disputa vai ser interessante já que a competição reúne no mesmo grupo escolas de samba como: Camisa Verde e Branco, Nenê de Vila Matilde, Unidos do Peruche, Leandro de Itaquera, Barroca Zona Sul entre outras para concorrer por duas vagas no especial de 2020. Um concurso que tem tudo para reviver a tradição dos bons tempos, sem “plim plim” e com público vindos de várias comunidades.
A primeira edição da caravana do “Samba pede Passagem” teve um público bem seleto do cenário do samba e do Carnaval. Entre os muitos personagens destacamos a jornalista e radialista Claudia Alexandre, do programa “Papo de Bambas” da TV Uol; Eduardo de Oliveira, ex-presidente da UESP (União das Escolas de Samba Paulistana); Antonio Carlos Arruda da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e a equipe de Bambas da Rádio Sintonia de Bambas: radialista e pesquisador musical Carlos J. Fernandes, repórter e colunista Lailson Leoncio, radialista e comentarista José Carlos Alvarenga e eu.
Valdir Sena – Jornalista, radialista, cronista de Carnaval e editor da Rádio Sintonia de Bambas.
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