A cantora paulistana Fabiana Cozza lança seu oitavo álbum carregado de poesias antirracistas
Em entrevista ao Site Sintonia de Bambas a cantora Fabiana Cozza fala sobre seu mais novo álbum , Dos Santos, além de sua formação artística, e de suas influências musicais. A cantora aborda também do preconceito vivido, ao ser convidada para interpretar Dona Ivone Lara, em musical em homenagem à cantora, mesmo sendo filha de pai negro. E da sua luta constante na defesa de uma brasilidade.
Foto: José de Holanda
Fabiana Cozza, 44, é aclamada por diversos críticos e público como uma cantora de destaque na música popular brasileira da atualidade. Vencedora de duas edições do Prêmio da Música Popular Brasileira (2012 como Melhor Cantora de Samba, e em 2018 como Melhor Álbum em Língua Estrangeira – por Ay, Amor!), chega ao seu oitavo álbum da carreira, Dos Santos, com uma forte crítica social, e principalmente com um manifesto poético antirracista. A obra ainda traz a estreia da cantora como compositora ao lado de Ceumar, na canção “Manhã de Obá”.
Além de compositora e cantora extraordinária, Cozza é Graduada em Comunicação Social (Jornalismo), e Mestra em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Aos 19 anos estudou canto popular, e aos 24 deixa o jornalismo para dedicar-se à carreira artística. Seu primeiro contato com o palco foi por intermédio da cantora Jane Duboc, uma de suas primeiras professoras de canto. Além de ser filha de Osvaldo dos Santos, intérprete na década 80 da tradicional Escola de Samba Camisa Verde e Branco.
Fabiana Cozza fala ao Site Sintonia de Bambas a importância de seu pai em sua trajetória artística- “Meu pai é minha primeira referência musical e desde cedo me apresentou o samba e parte dos artistas da música brasileira”- No último dia 04/09 a Escola da Barra Funda completou 67 anos de existência, a cantora menciona sua relação com a Agremiação… “Sou uma admiradora da escola e tenho muito respeito por sua história para o samba e o carnaval de São Paulo.”
A diversificação de estilos musicais é uma característica marcante da cantora. E apesar do enorme respeito que a cantora tem pelo carnaval, ela fala o porquê não a temos no cenário do carnaval… “- Eu não venho somente da cultura do carnaval… Nasci na casa de um sambista que ia além de sua formação, e escuta vários artistas brasileiros. Muito destes sambistas tem uma formação ampla em música. Sou uma artista inquieta e navego em muitos mares poéticos e musicais.”
Em seus shows é nítido que a artista se entrega de “corpo e alma” em suas apresentações, suas expressões corporais contundentes é fruto de uma outra vertente artística seguida pela cantora. Cozza estudou danças brasileiras com Tião Carvalho e Renata Lima. Aprendeu também observando brincantes dos terreiros e festas populares, das quais participou de Norte a Sul do Brasil. Trabalhou dança contemporânea e consciência do movimento com o mineiro Jorge Balbyns, discípulo de Klaus Vianna; Ismael Toledo; Irineu Nogueira – que a dirigiu em ‘Quando o céu clarear’ (2008), passando também pelo bailarino e coreógrafo JC Violla que fez a direção de movimento de Canto Sagrado, em homenagem à Clara Nunes (2013).
Nos álbuns de Fabiana Cozza a presença de ritmos ligados às religiões de matrizes africana é sempre muito marcante. No seu último álbum, Dos Santos , é evidente essas homenagens às entidades africanas do Candomblé.
O Site Sintonia de Bambas pergunta à cantora se “Dos Santos” é uma imersão em sua própria ancestralidade? E quais são suas considerações sobre esse mais novo trabalho, que é recheado de “afros-sambas”, com uma incrível produção musical _ “Dos Santos é minha palavra, meu manifesto poético antirracista diante de uma sociedade que adoece nas garras de um projeto político fundamentalista calçado na violência física, moral e ideológica de grupos historicamente massacrados pelo racismo: índios e negros. Quando falamos desse território que honro pisar e cantar, estamos descortinando milênios de ensinamento e ancestralidade presentes na cultura dos povos oriundos de África e dos nativos e reais donos do Brasil, as centenas de etnias indígenas. O que eu defendo é essa brasilidade.”
O Site Sintonia de Bambas relembrou de um momento delicado na carreira da artista. Quando ela sofreu na pele preconceito, mesmo sendo filha de pai negro, foi atacada por ativistas de movimentos negros, quando convidada para atuar como Dona Ivone Lara no musical em homenagem à “ Grande Dama do Samba”, por julgarem que a cantora tinha a pele clara demais para o papel ._ “Não acredito em sectarismo. Uma luta para ser ganha depende do coletivo. Sou uma pessoa do diálogo e não da violência verbal e muito menos corporal. Que este episódio tenha servido de exemplo para que possamos fortalecer a luta antirracista juntos.”
Nenê Rodrigues (produtora executiva) – nene@fabianacozza.com.br (11) 98181.9997 ( youtube clique aqui) / ( site clique aqui)
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