Com concurso aberto a todos que se interessarem em participar, o evento ocorre no sábado (27), das 16h às 18h.
Foto Capa: Divulgação
O último tira-dúvidas acontece na Quadra da Escola em Padre Miguel e reunirá o Carnavalesco Fábio Ricardo e os compositores que contarão a história da capoeira com o Enredo 2020 “Ginga”. A UPM receberá as obras no dia 10 de agosto das 16h às 19h, na Quadra da Escola, em Padre Miguel.
Para realizar a inscrição, as parcerias deverão estar munidas de três CDs com a obra gravada, 30 cópias da letra do samba, ficha técnica com os nomes dos compositores e 01 pendrive com letra e áudio. A taxa de R$200,00 (duzentos reais) deve ser paga no ato da inscrição. Vale lembrar que cada parceria poderá ter o máximo de 08 componentes, já incluso nesse número, até 02 participações especiais.
Confira a sinopse do Enredo:
Viajando no tempo da poesia, nasço da espontaneidade sagrada, do mítico ritual do povo Mocupe do sul de Angola. Brincando entre as brisas, filhas do vento, desperto o desejo de conquista de jovens guerreiros à dança do N’golo. Lembro-me bem: os tambores anunciavam a preparação da Enfundula – festa de passagem à vida adulta –, quando as raparigas fertilizavam o sangue da puberdade num misterioso cio, que encorajava rapazes a lutar pela disputa de suas esposas.
No afã da minha gente, sou a doce e constante firmeza de elo e abrigo. Filha da Mãe África, “berço da humanidade”, cresço entre seus ritos de mistérios e verdades, templo sagrado de Okô – divindade da agricultura, formo do sábio cultivo da terra e do domínio que forja as ferramentas ao seu plantio; dita ventura à típica pecuária, entrelaço-me à candura dos diversos encantos de sua cultura. Mãe! Eu sou a extensão do seu umbigo, fruto que brota desse chão, a força e o espírito de nossas tribos… Assim, eu sigo, levada pela tradição de seus ensinamentos, a destreza para vencer os inimigos.
Tudo ressignificava o meu saber, emergindo da linha do horizonte, trazida pelo cerne da dor e do lamento. Cruzo a imensidão dos mares entre a calmaria e a tempestade, acorrentada pela intolerância de homens fiéis à ganância e ao poder. Desprovida de liberdade, meu corpo padece, é escravo por fim. Mas não é rendido, apesar de ferido, encontra o elo supostamente perdido.
Por bem ou por mal aos ferros expostos, terei, eu, sorte igual? Longe das minhas paisagens habituais, velo a alma coberta de poesia tradicionalmente africana, em terras distantes. Entre pregões e a violenta estada no “Cais do Valongo” – por onde chegaram milhares de negros escravizados, sigo o “bando banto”. Abrasada nas senzalas, rompendo o silêncio de noites sombrias, sou incorporada feito arte matuta, uma espécie de dança, disfarçada entre os afazeres da labuta. Mas é na hora da fuga, usando os pés, as mãos e a cabeça, que me revelam como luta – subtraída da dor contra as “leis do opressor”.
Diante do que se vê, tudo parecia uma cilada: numa relação humana, onde o elemento principal é a expressão do corpo, sou alvo do realismo fantástico de olhares estrangeiros. Telas são pintadas registrando a vida urbana, fosse de forma sóbria ou insana, o fato é que o ato da pitoresca caravana representa um fenômeno antropológico intrinsecamente ligado a diversos episódios da minha trajetória.
Como a inocência de uma criança, ibejê de esperança, sou praticada em círculo de arte-defesa. Pura ou armada à ladainha do mestre Pastinha e entre tantos outros camaradas, minha filosofia é criada. Abençoados sejam meus filhos, pois chegou a hora: repouso íntima e genuína aos valores da tradição de Angola. Com o saber gravado n’alma, danço, gingo, pulo, brinco e rodopio.
Da cerimônia ao desafio: peço a benção nos pés do atabaque e o jogo inicia. Saio no “aú”, me fortaleço no “rabo de arraia”, finco meu pé e não entro de “bua”, planto “bananeira”, solto “meia- lua”…me esquivo na “negativa” e o jogo continua…
“Sou manha, malícia, mandingueira, sou tudo o que a boca come…” Como guardiã da cultura negra e da preservação do seu saber, abro minhas rodas nas ruas, nas feiras, nas festas, nos cais, comandada pelo berimbau…regidos por vareta e bordão, soam o “Gunga”, o “Médio” e o “Viola”. Também seguem o ritmo: chocalho, reco-reco, agogô e pandeiro. Toques, cantos, cantigas, corridos e ladainhas, tudo numa só sintonia: “São Bento Pequeno, Jogo de Dentro, Ave-Maria, São Bento Grande, Cavalaria, Maculelê, Benguela, Santa Maria”.
Canto e o coro responde: “Paraná-auê, Paraná-auê, Paraná…ê viva meu mestre, ê viva meu mestre camará, quem me ensinou…ê quem me ensinou camará…ê vamo-nos embora…ê vamo-nos embora camará… ê pelo mundo afora…ê pelo mundo afora camará…”
Mas, diante dos dados reais da vida, me pego pensando: sofri imensa perseguição e poucos sabem que dois anos depois da Abolição, Marechal Deodoro da Fonseca decretou minha proibição. Assim prossegui, entre brigas e arruaças, até o ano de 1932. Quando mudam o meu feitio, saltante, esportiva, com golpes rápidos e técnicas de arte marciais, fico mais ligeira e politicamente correta, aceita pela sociedade brasileira. Ganhou status de uma tal gente bacana, que pelos ensinamentos de mestre Bimba, passa a me chamar de Luta Regional Baiana. Nesse espaço social, por meio de um novo decreto presidencial, sou legalizada como profissão. Saio da pauta policial e, na condição de esporte e lazer, sou praticada em todo território nacional.
Dominada pela carga simbólica dos signos místicos da cultura afro-brasileira em meio dos quais cresci, abro as cortinas do passado, saúdo os meus heróis – que tradicionalmente gingaram, relacionando-se até hoje suas atividades à história de luta e à formação do povo brasileiro: a realeza de Zumbi, do Quilombo dos Palmares; a “ginga verbal” de Machado de Assis; as batucadas e o candomblé de Tia Ciata; o olhar cotidiano de João do Rio; a plasticidade de Rubens Valentim; o Brasil folclórico de Macunaíma e os sambas de Candeia cantados em jongos, pontos de umbanda, sambas de roda e partido-alto, cantigas de maculelê e sambas de enredo. Meu gingado é a gira, que corre gira nas rodas pelo mundo.
Seguindo o caminho voltado para a cultura, luta e resistência do povo brasileiro, consagro-me ao receber tamanho reconhecimento de Patrimônio Imaterial da Humanidade, de roda e ofício. Ao enredo do meu samba, unindo a todos que vão e que vêm, enalteço a força e a raiz quilombola da comunidade da Vila Vintém.
À devoção dos meus filhos, sou padroeira, sou a ginga do carnaval da Unidos de Padre Miguel. Nessa mistura brasileira, Sou mandinga, A todos digo Feliz e sorrateira: Muito prazer, Eu me chamo Capoeira.
Ideia Original e Carnavalesco: Fábio Ricardo
Pesquisa e Texto: Marcos Roza
A Vermelha e Branca da Zona Oeste será a 6ª agremiação a desfilar no sábado de carnaval, do Rio de Janeiro, pela Série A. Em 2019, a Escola ficou em 6º lugar na disputa e, para 2020, busca o tão sonhado título e retorno ao Grupo Especial.
Programa-se:
27/07 – Último tira-dúvidas com Carnavalesco de 16h às 18h
10/08 – Inscrição e entrega dos sambas de 16h às 19h
18/08 – Feijoada com apresentação dos sambas concorrentes às 14 horas
23/08 – Eliminatórias de Sambas-Enredo às 22 horas
30/08 – Semifinal às 22 horas
06/09 – Grande final do concurso de Sambas-Enredo às 22 horas
Local: Quadra da Escola: Rua Mesquita, nº 8 – Padre Miguel – RJ
Facebook comentário