Com uma história de vida dedicada ao Carnaval de todo o País, Hernane Siqueira chega à Vai Vai com a esperança no resgate do Samba, e pelo amor à comunidade. O carnavalesco promete colocar, literalmente, o Quilombo do Futuro na Avenida.
A função do Carnavalesco é criar através de sua genialidade a alma de um desfile de uma Escola de Samba, a harmonia, a estética e a historicidade que serão narradas através dos Setores no desfile. Todos os detalhes passam minuciosamente por seu olhar de grande criador. Essa mesma alma criada por ele, invade um corpo que se transformará num Samba Enredo, e esse por sua vez ganha vida com o suor e sangue de cada componente da Escola. Este profissional exclusivo do Brasil, estuda e pensa em cada detalhe que fará a composição e a perfeição do desfile. Desde a delicadeza e o impressionismo nas alegorias, até nas danças que ganham expressões nas alas. Toda essa arquitetura cultural passa pelos olhos do público e dos jurados que avaliam o desempenho dessa imensa criação.
Um apaixonado por carnaval desde a infância, Hernane Siqueira, colecionava revistas e fitas cassetes dos desfiles na esperança de um dia fazer parte deste time de profissionais da folia. E dentro do Carnaval perseguiu o sucesso, e fez sua carreira com muita ousadia e coragem. Ainda adolescente, bateu na porta da Imperatriz Leopoldinense, contando para Viriato Ferreira (figurinista e carnavalesco brasileiro), todo o conhecimento que tinha e isso foi o suficiente para que logo fosse convidado a montar um protótipo do abre-alas da escola. E qual foi a surpresa? Viriato usou a ideia no desfile de 1991.
“Fui lá bati na porta. Falei que era apaixonado por carnaval e que queria conhecer. Começamos a conversar. Ele disse que tinha que desenvolver o abre alas, e não tinha chegado o material. Eu pedi para fazer um, aí ele me disse que havia uma pequena. Perguntei com quais materiais ele queria que eu montasse, e com uns brocados e uns espelhos, fiz um piloto dessa banana. Ele pegou aquilo e disse: o carro é isso!”
Eu vivia isto(carnaval) desde os 06 anos, nessa época não tinha internet, então o que eu tinha eram apenas coleção de revistas, como a Cruzeiro, Manchete e Fatos e Fotos. Eu tinha todas as fitas cassetes de gravação de samba enredo, que passavam na Rádio Globo de madrugada. Esperava chegar Novembro, para o lançamento do LP do Rio, e para assistir programas como ‘Esquentando os Tamborins’ da TV Manchete. – Conta o carnavalesco com entusiasmo.
Mas a construção de uma carreira de prestigio e ousadia começou mesmo através de um convite de um amigo em 1991. Mesmo já frequentando escolas como a Nené de Vila Matilde e a própria Vai-Vai, Hernane conheceu a Leandro de Itaquera, onde teve seu primeiro contato direto com uma escola de samba de São Paulo, como profissional.
Em 1996, ganhou um concurso de samba enredo na Rosas de Ouro, e em 1998, Raul Diniz ( carnavalesco), colocou a ideia na Avenida com o tema “Do Inferno ao Paraíso, o Despertar da Humanidade”. Rapidamente, José Carlos Lisboa o chamou para ajudar na escola Acadêmicos do Tucuruvi, e Hernane abandona seu emprego de vitrinista no MAPPIN (loja de departamento) trazendo todo seu carisma e paixão para o Carnaval de São Paulo. Desde então, dedicou-se de corpo e alma pelas escolas por onde passou, sempre muito bem elogiado pelos presidentes e demais diretores, pela dedicação que sempre manifestou por todas agremiações.
Pelo Brasil, o carnavalesco ajudou na imagem das Escolas de Samba e do Carnaval, ao dar palestras. Foi organizador de diversos eventos, como a inauguração da Estação do Pré Sal no Espirito Santo. Fez projetos de empreendedorismo no samba com um grupo do Cambuci.
Ele conta que por ser um aficionado pelas Escolas de Samba, chegou a trabalhar em até cinco escolas no mesmo ano. Seu objetivo foi sempre o resgate da imagem, respeito e a importância do Carnaval. “Eu não era muito de criar raiz na Escola, por gostar muito do Carnaval. Eu entendia assim… quando ela chegava no ápice que ela queria, eu tinha que resgatar outra. Gosto de todas!” – Complementa Hernane.
Cansado de tanto trabalho e energia, Hernane ficou longe do Samba Paulista por alguns anos. Mas a saudade pelo Carnaval da Pauliceia falou mais alto, e aceitando o convite do Presidente Darli Silva ‘o Neguitão’, o carnavalesco há três auxilia a escola Vai -Vai nos seus desfiles. O amargo de um décimo lugar em 2018 com o Enredo ‘Andar com fé, eu vou’ deixou para Escola uma sensação de injustiça e esquecimento ao trabalho da matriz africana no Carnaval, marca registrada da Vai -Vai.
E a oportunidade de levar para a Avenida o resgate da historia do Povo Negro, fez com que Hernani juntamente com amigo e carnavalesco Roberto Monteiro , pesquisador e idealizador do Enredo e figurinista, onde juntos assinam a produção artística da Escola, entendam da grande responsabilidade que os dois possuem nas mãos, em 2019 com o Enredo ‘Vai – Vai, o Quilombo do Futuro’ Para realizar esse grande trabalho da Escola do Povo, a dupla conta com uma comunidade que trabalha com muita garra,amor, dedicação e acima de tudo com muita devoção em suas religiões de matrizes afro-brasileiras.
A missão de obter o título de campeã do Grupo Especial em 2019, já está no coração de Hernane, e podemos acreditar que com toda essa bagagem e dedicação, a Vai-Vai fará mais um belo espetáculo, como tantos outros que a Escola tem em seu histórico.
Ouça trechos da entrevista:
Por: Josy Dinorah
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